segunda-feira, 7 de julho de 2014

The Lancet, número especial sobre Parteria (Midwifery).



Séries de estudos internacionais sobre parteria, tratando das necessidades das mulheres em trabalho de parto e no parto, as necessidades de seus bebês e de suas famílias. Vê a parteria como uma profissão que dá conta de habilidades, atitude e comportamento, mais que de mero desempenho profissional e um novo sistema como um arcabouço integrativo, que oferece atendimento capacitado para todos.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Resposta à indignação de colega ultrajada...

A médica ginecologista e obstetra, Halana Faria, membro do Gemas e mestranda na Faculdade de Saúde Pública - USP, nos brinda com este belo e claríssimo texto, em resposta a uma mensagem indignada de colega, que se sente injustiçada pelo movimento contra a violência obstétrica e pelo parto respeitoso. Boa leitura!

"Oi, colega!
Também conheço essa realidade como obstetra. Flexibilização de gestão (OSS sem nenhum controle por parte do Estado), problemas de financimanto para o SUS, descompromisso de gestores para com a saúde da população. 


Mas o que está em crise é um modelo de atenção reproduzido pelos médicos obstetras e também por grande parte da enfermagem obstétrica. A origem desse modelo pode não ser nossa culpa, já que data do século XVIII, mas sua perpetuação se deve sim, na minha opinião, à dificuldade de uma categoria que não sabe dividir responsabilidades, que relega o bem estar emocional da paciente a segundo plano e que acredita estar acima de qualquer suspeita por ter feito um juramento hipocrático.

Entendo que você tente fazer o que está a seu alcance, a crítica muitas vezes é realmente genérica demais, e você tem razão, mas não dá mais para suportar a violência que as mulheres sofrem (que aliás ocorre esteja o pré-parto lotado ou não...).

Os procedimentos incabíveis (fonte pesquisa Nascer no Brasil - Fiocruz - recentemente divulgada, que entrevistou mais de 23.000 mulheres no país no setor público e privado) - 90% de litotomia (parto completamente deitada, quando conhecemos o benefício de posições verticais que conferem autonomia à mulher), 70% tiveram veia puncionada rotineiramente, só 30% se alimentou durante o trabalho de parto, 56% sofreram episiotomia (mutilação genital realizada para conforto médico), 37% tiveram sua barriga esmada por uma manobra chamada kristeler realizada para "ajudar" o bebe a nascer por conta da pressa da instituição, só 46% tiveram liberdade para se movimentar... sendo que só 15% dos partos foram atendidos por enfermeira obstétrica.

Você acha realmente que o problema é a lotação das maternidades? Por que, ao receber mulheres parindo depois de peregrinarem, elas continuam sofrendo todas essas violações? 

Se a categoria sente-se acuada, é porque realmente tem feito muito pouco para mudar essa realidade. Tem se posicionado contrariamente à inserção da enfermagem obstétrica e obstetrizes na assistência, fato que no mundo inteiro contribuiu para a redução de intervenções desnecessárias, tem se posicionado contrariamente às casas de parto já existentes no país, que funcionam com ótimos resultados, tem perseguido colegas que ousam sair da matrix... enfim, politicamente, a categoria médica só tem feito defender seus próprios interesses.

Agora, sobre o que tem feito a universidade para mudar a formação de nossos jovens obstetras, te deixo um exemplo e talvez inspiração de projeto conduzido pela colega Melania Amorim, professora na Universidade de Campina Grande, dentro de uma maternidade escola, pública, que atende 500 partos/mês (veja que até banheira de parto eles conseguiram improvisar) e o exemplo do Sofia Feldman, em BH.
 

Abraço!
Halana"


https://www.youtube.com/watch?v=T_c9FwVlVw4

https://www.youtube.com/watch?v=P8w-C-DTXGk

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Direitos Humanos arrancados de casa e cortados em hospital

Muitos ficaram sabendo ontem, pelas redes sociais, outros souberam hoje, por meio de publicação no jornal "Folha de São Paulo", caderno Cotidiano.
Na madrugada do dia 1º de abril, terça-feira, em Torres-RS, uma mulher grávida de 42 semanas de gestação foi retirada de sua casa, à força, por policiais militares, e conduzida ao hospital local, onde sofreu uma cesariana forçada, determinada por ordem judicial.
Leia a íntegra da matéria em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/04/1434570-justica-do-rs-manda-gravida-fazer-cesariana-contra-sua-vontade.shtml.
O Gemas, como grupo que estuda e discute questões de gênero, posicionando-se em defesa dos direitos da mulher quanto a seu corpo e sua vida privada, exara sua manifestação nos termos a seguir expostos:

São Paulo, 1º de abril de 2014.

CARTA ABERTA DE REPÚDIO

Nós, integrantes da Sociedade Civil do Brasil, inconformados com o ocorrido com Adelir Carmem Lemos de Góes,

Considerando a ação proposta pelo Ministério Público, na cidade de Torres – RS, contra Adelir Carmem Lemos de Góes, mulher e então gestante;

Considerando a liminar concedida pela D. Juíza Liniane Maria Mog da Silva, que determinou a condução coercitiva da ré ao hospital local “a fim de que a gestante receba o atendimento médico adequado para o resguardo da vida e integridade física do NASCITURO, inclusive com a realização do parto por cesariana, se essa for a recomendação médica no momento do atendimento, pois o bebê estaria em pé dentro do útero, sendo que a requerida recusou submeter-se ao procedimento”;

Considerando que, na madrugada de 1º de abril de 2014, Adelir Carmem Lemos de Góes foi efetivamente conduzida coercitivamente, por meio de força policial, de sua residência ao Hospital Nossa Senhora dos Navegantes (Torres – RS), e submetida à força à cirurgia cesariana;

Considerando os itens 1 e 2, do artigo 5º, do Pacto de San José, do qual o Brasil é signatário; os incisos II e III e demais aplicáveis, do art. 5º da Constituição Federal; parágrafo 8º, do artigo 226, da Constituição Federal; Artigo 2º, “b”, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (CONVENÇÃO DE BELÉM DO PARÁ, de  9 de junho de 1994), da qual o Brasil é signatário; a Lei Federal 11.340/2006 (Lei Maria da Penha); o artigo 146 e demais aplicáveis, do Código Penal; o artigo 22 e demais aplicáveis, do Código de Ética Médica; as diretrizes do Ministério da Saúde;

vimos manifestar nosso absoluto repúdio à forma de condução do atendimento obstétrico, da manifestação do Digno Ministério Público e da Douta Juíza de Direito que concedeu a liminar, uma vez que se tratou de perpetração de ato de violência, de desrespeito ao direito da mulher sobre o próprio corpo e sobre sua vida privada, e de flagrante inconstitucionalidade e lesão inaceitável aos direitos humanos.


GEMAS – Gênero, Maternidade e Saúde – FSP – USP

terça-feira, 1 de abril de 2014

Formas de nascimento.

Selecionamos alguns vídeos didáticos sobre as formas de nascer:

Cesárea:
  

Parto Normal Hospitalar:

Parto Normal Domiciliar Humanizado:

Parto Auto Assistido:

quarta-feira, 26 de março de 2014

Primun non nocere?



        Texto de Halana Faria de Aguiar Andrezzo
         A história da saúde da mulher é a história de um sucesso de “vendas” calcada em sua “tragédia biológica”. Ainda menina, na primeira menstruação, que tende a ser irregular nos primeiros anos, se consultar um ginecologista, pouco provavelmente sairá de seu consultório sem um contraceptivo oral. Aprenderá desde cedo que a pílula minimizará os efeitos da TPM e que tomada sem pausa ainda a poupará da menstruação. Fará ultrassons e mamografias regularmente. Ao primeiro sinal da menopausa terá a oportunidade mais uma vez de receber a prescrição de uma reposição.
         Não estranha portanto, que novamente com a vacina contra o HPV, seja   testada em NOSSO corpo, a introdução de nova tecnologia. Apesar de festejada por gestores, profissionais de saúde e grupos de defesa dos direitos das mulheres, aparentemente não há ainda motivos para tanta euforia.
         Sabemos que o HPV está implicado em 95% dos casos de câncer (sendo 70% destes causados pelos subtipos 16 e 18). Há ainda mais de 100 subtipos de vírus  e sua transmissão é pela via sexual em relações hetero e não-heterossexuais. Até os 30 anos a maioria das mulheres sexualmente ativas terão sido infectadas por algum subtipo viral. Na grande maioria das vezes nosso sistema imune dará conta de resolver a situação e quando não der o vírus poderá causar alterações celulares (observáveis microscopicamente na lâmina da coleta do papanicolaou) que podem levar mais de 10 anos para se transformar em um câncer de colo.
         A melhor maneira que temos de nos proteger dessa doença, é com a realização regular do preventivo ou papanicolaou (entre os 21 e 65 anos), e a recomendação atual é que depois de dois resultados normais, o exame seja realizado a cada 3 anos (1). Deve-se lembrar ainda, que realizados inapropriadamente, mesmo os exames de rastreio, podem ter efeito negativo sobre nossa saúde. No caso do preventivo pode haver sobrediagnóstico, levando a biópsias, ansiedade e tratamentos desnecessários.
         O rastreio com preventivo pode reduzir a mortalidade por câncer de colo em 80% (2) mas ainda não sabemos que efeito a vacina contra o HPV pode ter sobre a mortalidade ou mesmo sobre a incidência de casos de câncer de colo. O que os estudos demonstraram até agora é que ela diminui os casos de lesões pré-malignas/tratáveis (NICII e III) associadas aos subtipos 16 e 18. Precisaríamos de pelo menos 10 a 20 anos para demonstrar o efeito que essa vacina teria sobre a incidência da doença e sobre a mortalidade que causa. O que também não está claro é como se comportam as lesões associadas aos demais subtipos virais com a vacinação.
         Uma outra questão importante diz respeito ao marcador de desigualdade da doença. Mulheres pobres morrem mais de câncer de colo. Sua vulnerabilidade social as afasta dos serviços de saúde, suas necessidades de sobreviver antecedem suas necessidades de auto-cuidado. O que garante que essas mulheres buscarão a vacina nos centros de saúde? Será diferente o impacto que tem as propagandas e apelos para a realização do preventivo e o “marketing” da vacinação?
         A vacina também tem enfrentado controvérsias em outros países e o caso espanhol é peculiar. A epidemiologia do vírus na Espanha parece ser diferente: menos de 30% dos casos de câncer podem ser atribuíveis aos subtipos 16 e 18, e mesmo assim a vacina foi introduzida no calendário vacinal. Já há uma iniciativa popular organizada que chama-se Associação das Afetadas pela Vacina contra o HPV http://aavp.es/. No sítio da AAVP pode-se ler os relatos do que as mulheres acreditam sejam efeitos colaterais da vacina, entre eles repetidos casos neurológicos descritos como fadiga crônica.
         O Japão retirou a vacina do seu calendário oficial após não obter resposta do fabricante da vacina para a seguinte demanda: introduzir na bula, informação sobre sua possível neurotoxicidade.
         Mais impressionante é que sem que haja qualquer explicação, Merck (MSD) e GlaxoSmithKline (GSK), fabricantes das duas vacinas disponíveis no mercado, foram eximidas da necessidade de apresentear estudos da fase IV pelo FDA. Estudo  conduzido depois que o medicamento recebeu aprovação para comercialização que visa avaliar segurança, tolerância e eficácia de longo prazo.   
         As meninas brasileiras já estão sendo vacinadas, a não ser que seus pais encaminhem à escola termo de recusa informada. Mas onde os pais estão sendo realmente  informados? Será essa informação parcial?
         Um dos encaminhamentos do Seminário em comemoração aos 30 anos do PAISM foi que essa discussão seja levada às instâncias de Controle Social do Município com o objetivo de questionar, informar e cobrar esclarecimentos sobre as inúmeras dúvidas levantadas na ocasião. Entendemos ser urgente e função da sociedade fazer frente à pressão que a lucrativa indústria farmacêutica impõe aos gestores, profissionais e cidadadãs(ãos) de nosso pais.

1 -   Moyer Va. Ann Intern Med 2012; 156: 880-91.
2 - Ault KA. J Natl Cancer Inst 2011; 103: 1352-3.  
  
Halana Faria de Aguiar Andrezzo
Médica Ginecologista e Obstetra
Mestranda Faculdade de Saúde Pública /USP

 Texto escrito com intuito informativo a partir das apresentações e discussão no Seminário: A Saúde da Mulher na Saúde Pública – 30 anos do PAISM, realizado no dia 13/3/2014 na Faculdade de Saúde Pública.


        


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Dia Internacional da Mulher

Evento no dia 13 de março, imperdível.

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo convida tod@s para um dia de debates sobre direito das mulheres à escolha informada sobre dois temas centrais das políticas de saúde da mulher: prevenção do câncer de colo de útero e de mama e assistência ao parto.

PROGRAMAÇÃO:

Câncer de mama e de colo do útero - Direitos das mulheres e Saúde Pública

9:00 - Abertura e boas vindas

9:15 - Introdução: por que este seminário, e o lugar das políticas de saúde das mulheres na Saúde Pública no Brasil: uma reflexão rápida sobre os 30 anos do PAISM – Profa. Simone Diniz (FSP-USP).

9:30 - Epidemiologia dos cânceres femininos: por que a incidência e a mortalidade por câncer de colo do útero têm diminuído e por câncer de mama tem aumentado? Um balanço das políticas de saúde e seus resultados - Palestrante a confirmar.

9:50 - Câncer de mama e de colo do útero: políticas de saúde - da prevenção primária à quaternária - Prof. Gustavo Gusso (SBMFC).

10:10 - Prevenção do câncer de mama e de colo do útero, direito das mulheres à informação e à escolha informada e o lugar da mamografia e da vacina contra o HPV - Profa. Tânia Lago (FM-SCM).

10:30 - 10:45 - Intervalo para café

10:30 às 12:00 - Debate com a coordenação da Profa. Maria Novaes (FM-USP):
- Direitos humanos, escolha informada em saúde e assistência não informada ou não consentida (Priscila Cavalcanti, GEMAS).

Direitos reprodutivos, direitos das mulheres e a transição epidemiológica e nutricional

13:45 - MicroBirth: uma campanha de saúde pública sobre parto, microbioma e epigenética e sua relação com as doenças crônicas.

14:00 - Direitos das mulheres, maternidade e saúde pública: o impacto da assistência ao parto na transição epidemiológica e nutricional - Profa. Simone Diniz (FSP-USP).

14:15 - Filme: O Renascimento do Parto, de Érica de Paula e Eduardo Chauvet.

15:45 às 16:00 - Intervalo para café

16:00 às 17:30 - Debate com a coordenação da Profa. Camilla Schneck (EACH-USP):
- Violência obstétrica e direito das mulheres à informação e ao consentimento informado no Brasil (Defensoria Pública);
- Iniciativas do Judiciário para mudança nas práticas de assistência (OAB Mulher);
- Os movimentos sociais pelas mudanças nas práticas de assistência (Rede Parto do Princípio);
- Parto e Direitos Sexuais e Reprodutivos (Artemis).

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A contaminação do bebê pelas bactérias do bem: boa saúde tem tudo a ver com o parto.

As taxas altíssimas de cesarianas no Brasil são um assunto bastante debatido pelo setor de Saúde e por aqueles que se preocupam com os riscos do procedimento cirúrgico tomar o lugar do parto fisiológico. Os riscos não são poucos, mas estudos mostram que as consequências vão bem além dos primeiros anos do bebê.

A colonização do bebê por bactérias presentes no organismo da mãe garante a saúde dele para o resto da vida. A passagem pelo canal vaginal, o contato precoce pele a pele e a amamentação dentro da primeira meia-hora após o nascimento, tudo isso é muito importante. O bebê é assim colonizado pelas bactérias "certas", que irão protegê-lo contra alergias, asma, obesidade e que farão com que o "ecossistema" intestinal seja o mais saudável e adequado. E isso dura para o resto da vida...

Sempre agradecendo às cesarianas realmente necessárias, cabe perguntar: quais são as bactérias que colonizam o bebê nascido por cesariana, imediatamente afastado da mãe para sofrer procedimentos invasivos e, na maioria das vezes, de necessidade discutível? Que bactérias estão presentes nas cânulas utilizadas para aspirar protocolarmente o recém-nascido?

O filme no link abaixo chama-se "Microbirth Indiegogo Campaign" e faz parte de uma campanha para financiamento do documentário que discute o tema em profundidade. Ele questiona se o modo como interferimos com o nascimento natural está mudando nossa espécie e faz uma pergunta crucial: "Será que, no futuro, vamos nos arrepender do que fizemos com nossas crianças?".

Ainda não está traduzido, mas é imperdível: http://www.youtube.com/watch?v=e2kLpHo3__0
Para ser um colaborador:  http://www.indiegogo.com/projects/